Existem muitas pessoas com problemas para dormir e, apesar de eu não ser uma delas, naquela noite fiquei uma hora trocando de posição deitada em minha cama. Motivo? Simples, eu tinha uma endoscopia marcada para o dia seguinte pela manhã. É óbvio que eu estava com medo do exame, afinal, quem gosta de ter um cano com uma filmadora na ponta enfiado garganta abaixo? No entanto, esse não era o motivo da minha insônia, mas sim a anestesia. Um medo que sempre tive: agulhas! Seja injeção, anestesia, soro, vacina, não importa, é só entrar no hospital e desabo a chorar. E eu tinha a impressão de que esta vez não seria diferente.
Acordei no dia 3 de julho sem a menor vontade de sair da cama, evento muito comum, devo admitir, porém até parece que minha mãe iria deixar. Portanto, levantei, tomei banho, me arrumei e, é claro, não tomei café. Acho que não seria muito legal ver pão pendurado no cano, na hora em que o retirassem. Sei lá, só acho.
O caminho até lá foi rápido e tranquilo, moro em Praia Grande, e a dita cuja seria em São Vicente, o que resultou em 45 minutos de fones de ouvido cozinhando meu cérebro, como diriam meus pais. Ambos me acompanharam, já que eu era menor de idade e ouvi de muitos que fizeram o exame que eu ficaria um tanto quanto fora de órbita.
Paramos em frente ao hospital e eu em frente à porta. Sentia que Sila, aquele monstro de sei-lá-eu-quantas cabeças da Odisseia de Homero, estaria me esperando ali dentro. Respirei fundo e entrei, recebendo aquela sensação instantânea de pânico.
- Mãe, eu vou sentar, okay?
- Okay.
Fui até o sofá mais escondido e me sentei. Minha mãe me seguiu e meu pai foi ao banheiro. Assim que minha mãe se sentou, não pude mais aguentar, as lágrimas caíam, por mais que eu as tentasse segurá-las.
- Mãe? – chamei.
Ou ela não me ouviu ou não quis responder. Chamei-a novamente, dessa vez com sucesso. Ela se virou e começou a rir. Qual era a graça? Para mim, com certeza nenhuma!
- Para de ser boba, é só uma picadinha!
Não respondi, apenas continuei a chorar, pensando que ela sempre dizia isso e nunca era a verdade, o que me irritava profundamente. Ajeitei-me no banco e voltei a ouvir música. As lágrimas começavam a diminuir conforme eu cantava para mim mesma e me empolgava com a canção.
- Calma, a gente ainda nem fez a ficha.
Nesse momento meu pai chegou e eu fui chamada, entrando em pânico no mesmo momento. Nos aproximamos da recepção, porém queriam apenas que preenchêssemos minha ficha. Alguns instantes depois fui chamada mais uma vez por uma enfermeira.
- Entregue sua bolsa à sua mãe e venha comigo.
Meu coração deu um mortal para trás e minha mãe riu disfarçadamente.
- Então, é que ela morre de medo de agulhas, será que eu poderia entrar com ela?
- Ah, ela tem medo? Que bonitinha, está chorando! Pode sim, claro.
Foi à partir desse momento que não consegui mais parar de chorar. A enfermeira pediu para que eu sentasse em uma daquelas camas de hospital quando entramos na sala. Obedeci, porém tropecei duas vezes na escada de metal. Ela me entregou um remédio rosa em um copo plástico de café. Demorei, porém consegui tomar.
- Tem um bebê aqui? – perguntou uma voz masculina.
- É, doutor, tem um bebezinho chorando – respondeu a enfermeira.
Se eu estivesse em condições normais, teria ficado realmente irritada, no entanto, raciocinar não era uma das coisas que eu conseguia fazer no momento.
- Olha, vou usar uma agulha ainda menor em você, uma agulha de bebê! – disse a enfermeira, como se esse fosse o maior consolo do mundo.
Agarrei a mão de minha mãe no mesmo momento em que o médico colocou a agulha e eu comecei a respirar que nem um cachorro.
- Não respira assim não, não passa ar para o pulmão – aconselhou o médico.
- Mas os médicos pedem para respirarmos assim na hora do parto – rebateu minha mãe.
- Só se precisarem de mais gás carbônico no corpo da mulher.
Eu só conseguia pensar: “E aí, doutor, vai continuar discutindo com a minha mãe ou vai parar de abusar da minha veia?”. Depois disso só me lembro de gritar desesperada “Eu vou vomitar, eu vou vomitar!” quando o exame já tinha começado e de acordar em uma sala diferente, deitada em uma cama, com uma enfermeira diferente dizendo:
- E então, vai dormir o dia inteiro?
Por: Bree
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